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03/03/2021

Marcas brasileiras tiram ‘nota baixa’ em diversidade

Segundo pesquisa do grupo Croma, as gigantes dos cosméticos Natura e O Boticário são pontos fora da curva

O Estado de S. Paulo22 Feb 2021 Fernando Scheller

Apesar de o debate sobre diversidade estar em alta no mundo corporativo, uma nova pesquisa do Grupo Croma mostra que, em geral, as empresas ainda engatinham em relação ao tema. O novo levantamento Oldiversity – que analisa o desempenho de companhias em inclusão da comunidade LGBT+, de profissionais negros, de pessoas com deficiência (PCDS) e no quesito longevidade – mostra que o caminho a ser percorrido é longo: 42% dos mais de 2 mil entrevistados disseram não conseguir identificar uma só marca com o assunto diversidade.

Essa é a segunda rodada da pesquisa – a primeira foi feita em 2018, quando o porcentual de pessoas que não ligavam uma marca à questão era um pouco maior, de 47%. Esse avanço é lento, diz Edmar Bulla, presidente do Grupo Croma, porque o trabalho de inclusão, que faz parte do conceito ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança), é de longo prazo. “Muitas vezes há uma relação efêmera com o tema. A volatilidade de discurso falha em formar uma verdade.”

Duas marcas brasileiras aparecem como pontos fora da curva: Natura e O Boticário são, de longe, as empresas mais ligadas à diversidade e longevidade pela população, segundo o levantamento. A Natura foi lembrada por 24% dos entrevistados – em respostas espontâneas –, enquanto O Boticário foi citado por 14%. As demais empresas citadas atingiram, no máximo, 5% de menções (veja quadro).

Para os entrevistados, a Natura é especialmente bem lembrada no que se refere a questões da comunidade LGBT+, enquanto o resultado mais forte d’o Boticário foi em iniciativas voltadas a PCDS. O resultado das duas marcas se reflete também na impressão setorial: 47% das pessoas associaram o setor de cosméticos à diversidade e à longevidade, enquanto os dois outros segmentos mais lembrados – confecção e moda; entretenimento e redes sociais – vêm bem atrás, com 9%.

Longo prazo. Para Bulla, o fato de empresas que têm endereçado a questão da diversidade não terem sido citadas na pesquisa – como o Magazine Luiza – só evidencia que a construção de uma identidade relacionada ao tema pode levar décadas. “É só analisar o caso da Natura e pensar há quanto tempo a empresa se associa a temas sociais e ambientais”, explica.

A principal atividade da Croma é justamente ajudar empresas a desenvolver programas de diversidade. Apesar dos “haters” que muitas vezes se posicionam contrários a determinadas ações, como ocorreu no caso do trainee do Magalu voltado exclusivamente a candidatos negros, o especialista garante que o resultado final para as empresas é positivo: “O risco, hoje, é não falar em diversidade”, afirma Bulla.

Essa realidade aparece nos números da pesquisa Oldiversity: 67% dos entrevistados dizem admirar, recomendar e dar preferência a marcas que se dedicam de alguma forma à questão LGBT+. Quando se trata da questão de inclusão racial, esse índice chega a 68%. E, no que se refere à longevidade e à inclusão de profissionais mais velhos, essa preferência vai a 75%.

 

Preconceito oficial. A pesquisa também mostra uma avaliação de que o governo Jair Bolsonaro deu um microfone a vozes que disseminam preconceitos. Mais da metade dos ouvidos disseram que o governo colaborou para o aumento do preconceito, especialmente o racial (citado por 47%) e contra a comunidade LGBT+ (55%).

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